CONCRETUDE E ABSTRACIONISMO

O que é concreto e o que é abstrato, de fato? Na Umbanda,  como podemos entender e perceber estes dois conceitos na forma como se apresentam e atuam Orixás e guias espirituais?  Talvez devamos, daqui para a frente, aprofundar esta discussão, pois, ainda há uma estrada a ser percorrida até que cheguemos a um senso comum e consigamos compreender, de fato, como se dão as lidas umbandistas.

Falo e grifo, aqui neste texto, das lidas realmente umbandistas!

Por que ao longo de pouco mais de um século de existência, esta jovem religião tem se mostrado com uma base sólida,  porém, em roupagens que variam de um templo para o outro. E são, estas roupagens, o modo de manifestação, mas também, a forma como cada uma dessas casas trabalha, pensa e enxerga algumas coisas.

Pai Benedito de Aruanda nos traz,  nas obras psicografadas pelo Mestre Rubens Saraceni, duas definições para as religiões, classificando algumas como mentalistas e/ou abstratas e outras como naturais e/ou concretas.

A nossa digna e amada Umbanda entra na classificação das naturais, que são aquelas que cultuam e reverenciam Deus e as Divindades manifestadoras dos Seus Divinos Poderes por intermédio da natureza e das sete essências primais (cristalina, mineral, vegetal, ígnea, eólica, telúrica e aquática). Essências estas que se condensam e se apresentam, para que possamos entender melhor, como energias nos elementos da natureza.

Mentalistas ou abstratas, segundo a definição deste Senhor Mestre Mago da Luz, são aquelas religiões que recorrem, única e exclusivamente, a processos mentais (orações, penitências, confissões, meditações etc).

Deixemos claro que uma coisa não anula ou substitui a outra. Em verdade, todos os recursos a nós concedidos por Deus são bons e funcionais. Mas há a forma de cada religião se manifestar e ela atenderá a necessidade de um determinado grupo de fieis ou adeptos. Apenas, nós, praticantes de uma religião natural, temos no recurso energético resultados práticos, rápidos e profundos. E isto tem sido comprovado, no caso da Umbanda, sem deixar qualquer sombra de dúvida a quem quer que seja.

As orações, meditações, reflexões, enfim, o pensamento como manifestação e sopro divino, estão na lida natural umbandista. Pois no trabalho de um guia espiritual, o recurso natural também traz o verbo divino em orações, pontos cantados, clamores. É preciso que isso fique bem claro, para que os adeptos das doutrinas mentalistas entendam de uma vez por todas como se dá o processo nesta religião magística que recorre à natureza em seus rituais.

Respeitamos todas as formas ritualísticas e assim sempre será. Só não venham, por obséquio, classificar nossas práticas como atraso, fetichismo ou qualquer outra definição preconceituosa. Atrasado é, em verdade, este “determinismo religioso” praticado e apregoado por alguns.

E que os umbandistas se nutram de argumentos coerentes, baseados em ensinamentos sólidos de quem conhece o riscado (no caso, Pai Benedito de Aruanda e todos os guias espirituais de Umbanda, que nos trazem um conhecimento milenar e precioso).

Como citei no início deste texto, quero falar agora, única e exclusivamente das lidas umbandistas. Então prossigo propondo aos irmãos e irmãs uma reflexão acerca da concretude e do abstracionismo dentro da nossa religião. E se aceitamos as definições de Pai Benedito, aceitamos a Umbanda como uma religião natural e concreta, em detrimento de abstracionismos.

Supostamente, alguém me pergunta: – As orações são abstratas? E eu respondo: – São concretas, quando não são feitas de forma decorada, apenas “cuspindo” as palavras nelas contidas, tenha o adepto as aprendido em outras religiões ou no terreiro de Umbanda que frequenta.

Uma oração calcada no conhecimento adquirido a partir dos ensinamentos da própria Umbanda, trará sim muitos benefícios ao espírito e à sua evolução. E quando aliada aos recursos energéticos que são manipulados pelos guias espirituais e a nós ensinados em algumas ocasiões, nos mostram e nos trazem a real força umbandista.

Porém, ainda há, infelizmente, templos de Umbanda que bebem em outras doutrinas, trazendo fundamentos alheios à nossa religião para dentro das casas. Então, ensinam aos médiuns e consulentes que o guia não deve beber, fumar, manipular este ou aquele elemento. Mal sabem estes dirigentes, que guia espiritual não bebe ou fuma, apenas manipula as essências, que são divinas, e estão contidas nestes elementos.E que o médium bem preparado e com conhecimento, não beberá até cair nem fumará enlouquecidamente. Ou melhor, nem fumará, apenas manipulará o elemento e a fumaça.

Necessário se faz que todos busquemos o conhecimento acerca das nossas práticas, que veio por intermédio da Umbanda e de um sacerdote umbandista. Os ensinamentos de outras doutrinas devem nos servir como abalizadores (pois devemos ter referências de outras doutrinas e práticas), mas nunca como determinantes dos nossos rituais.

Por que somos umbandistas, adeptos de uma religião magística e que tem nos rituais a base da sua grande força. E ritual não é algo atrasado ou coisa do “demônio”, como alguns gostam de classificar. Ritual é, em si mesmo, um modo ordenado, equilibrado e organizado de se reverenciar e cultuar Deus. Reflitamos acerca disso!

Agora já podemos concluir que o concreto para nós, umbandistas, é a Natureza Mãe manifestando-se em nossos rituais com as bebidas, o fumo, os cristais, minerais, as velas, os vegetais e todos os outros elementos usados em nossa ritualística.

E assim a Umbanda segue em frente, concreta e natural, caminhando muito bem, graças a Deus!

André Cozta

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